quarta-feira, 23 de março de 2011

quinta-feira, 3 de março de 2011

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

domingo, 2 de janeiro de 2011

sábado, 1 de janeiro de 2011

terça-feira, 18 de maio de 2010

ONDE ANDA, gentileza, respeito, educação, bons modos?

17/05/2010 - Dê a preferência


Friedmann Wendpap



A bordo de um ônibus com aparência suja, vidros e assentos riscados, jovens permanecem sentados enquanto o casal de velhinhos tem dificuldade para se segurar nos canos do teto; um homem menos velho se levanta, oferece o assento. Em pé, absorto enquanto o veículo sacoleja rumo ao centro da cidade, passa os olhos por todo aquele cenário feio, deprimente, e vê a placa sinalizadora da preferência dos idosos para se sentar. A memória, tempo paralisado, vai trazendo lembranças da linha do Sacre Couer, do Hugo Lange e o gesto de mais de uma pessoa, simultaneamente, oferecendo lugar para o velho que estava em pé. Não havia plaquinha com bancos reservados e recomendação para agir de modo educado. Havia educação, não placas.



A impressão que invade o pensamento é de relação inversamente proporcional: menos educação individual, mais educação social. Os pés sentem as saliências da cerâmica destinada a guiar cegos na Rua XV; ouve-se o sinal sonoro que acompanha as luzes do semáforo de pedestres; a rampa para cadeira de rodas facilita a movimentação nas esquinas; a linguagem brasileira de sinais acompanha a propaganda dos partidos políticos. Marcos civilizatórios que distinguem sociedades brutas das refinadas? Sim, mas algo ficou diferente. Quando não havia nenhuma dessas facilidades, quando não havia ônibus com plataforma para as cadeiras, existia algo imaterial, uma convicção sobre a importância da gentileza, do respeito a quem se encontrava em situação frágil.



A brutalidade, tônica da natureza humana, é fator constante na equação; variável, o modo como se educam as pessoas para lidar com a própria animalidade. A pretensa educação libertária funciona como alvará de soltura para o egoísmo mais bestial. O respeito aos mais velhos era a linha condutora da hierarquia na família. A prática diária, em milhares de casas, de ceder lugar para a avó se sentar, de lhe oferecer a melhor porção de bolo, a parte tostada da casca do pão caseiro, repercutia nas relações extralares; hábitos que integravam o repertório de condutas consideradas adequadas para a boa convivência das pessoas e não dependiam de placas nos ônibus, filas de banco, casas lotéricas, restaurantes no dias das mães. Agir de modo respeitoso com as pessoas frágeis faz o ambiente emocional ficar positivo. A gentileza, ainda que desprovida de intensa reflexão moral, funciona como redutora do atrito nas relações subjetivas.



A linha de educação que parece ter prevalecido deixou muitos jovens com postura abrasiva nos relacionamentos. Ao tocar nos outros, agem como lixas ásperas que machucam; não são polidos; onde passam, geram atritos. Isso não é “atitude”, é grosseria, rudeza. Leszek Kotakowski, ao falar sobre as virtudes, diz que são pouco úteis os manuais de instrução sobre condutas virtuosas nas comunidades onde elas não são praticadas. Aprendem-se virtudes quando se está imerso em ambiente que as pratica e valoriza. Metaforicamente, não se aprende a nadar fora d’água, lendo instruções em placas.



Os manuais de instrução do politicamente correto não entram na mente das pessoas. Para que haja apreensão de condutas virtuosas é preciso substrato afetivo e o Estado, o poder público, por mais atenção que dê às crianças em creches, escolas, educandários, não dá amor. O Estado se expressa por seus funcionários; ao fim do expediente eles vão para casa, ao encontro do seu lócus de aconchego, de afetividade. Mães, pais, avós, tios, irmãos, primos, famílias adotivas, não têm horário para a jornada de trabalho de transmissão de valores virtuosos aos jovens. O Estado instrui, a família educa.



A modernidade tem desprezado a relevância da vida familiar como via para a entrega de padrões morais de uma geração a outra. Por força disso, aqueles jovens viçosos que deixaram os velhos em pé pareciam estar no começo da civilização, com carência de noção sobre a necessidade de deferência à dignidade dos outros.



Correio Velho; tenho de descer das nuvens e do ônibus.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Pedalar em Curitiba


Amsterdam







Curitiba (por bicicletada)









Não faz muito tempo foi publicado na Internet uma pesquisa de uma revista digital americana posicionando a cidade de Curitiba como a quarta melhor do mundo para se pedalar, a frente até de várias cidades européias.

Isto é a tradução da justificativa para tal feito, comentada pela Revista Galileu:



“4. Curitiba, Brasil

Nós também entramos na lista. Conhecida pelo bom planejamento urbano, Curitiba também estimula o uso de bicicletas como transporte há mais de 40 anos. Tanto que a presença de ciclovias na cidade é claramente vista. Além da infraestrutura, existe uma comunidade ativista pró-bicicleta bem atuante, com o intuito de promover o uso da bike como alternativa ao congestionamento de carros.”

Sou curitibano nato, me orgulho de minha cidade e gosto quando esta é citada como um bom exemplo de planejamento urbano e qualidade de vida. Mas desta vez exageraram. Acreditaram no que alguém, talvez com outros interesses, contou sobre nossa situação. Qualquer pesquisa mais aprofundada iria levantar que a situação não é bem assim. Está claro que não houve um trabalho mais apurado no levantamento de informações, perceba que no site original, para cada cidade citada no ranking, postaram uma foto com bicicletas, exceto para Curitiba.

Se procurassem, os editores do site americano poderiam achar esta imagem da última ciclovia construida em Curitiba :

Vejam que belo “exemplo” de funcionalidade! Dá para comparar com o que foi feito em Sorocaba, na foto ao lado ?