quinta-feira, 15 de abril de 2010

exemplos de superação. e denúncias de indiferença ao esporte por parte dos políticos


CAPE EPIC 2010 – Um marco na vida de Carlos Lopes

POSTED BY ADMIN ON ABRIL - 13 - 2010
Competir, viajar, acreditar que tudo é possível, mudar conceitos ultrapassados, descobrir nossas potencialidades, encontrar novos amigos, compartilhar aflições, vencer desafios, fazer novas amizades e descobrir nosso próprio autoconhecimento como uma forma de transpor barreiras do ego e da vaidade na busca do amadurecimento pessoal necessário para tornar-se um ser humano melhor na busca de uma sociedade mais justa e verdadeira.
É assim que resumo minha busca ao me confrontar voluntariamente com os desafios do esporte e da vida.
Para muitos é difícil entender porque o ser humano busca desafios, se ausentando do conforto de seus lares e familiares queridos, para pôr suas próprias vidas em riscos se expondo a sacrifícios muitas vezes incríveis.
Afinal, só fazemos o melhor que somos capazes quando realmente precisamos fazer. O ser humano dá o melhor de si quando precisa. É em situações extremas que mostramos do que somos capazes. Não é uma capacidade de poucas pessoas ou de pessoas especiais, é uma capacidade inata do ser humano e está presente dentro de cada um de nós, apenas devemos acreditar e encontrar este poder muitas vezes adormecido dentro de nosso ser.
CAPE EPIC 2010 – Um marco na minha vida
O convite inesperado veio de uma recém nascida amizade. Tudo aconteceu meio encima da hora e Alfredo Montenegro é o nome dele, este jovem atleta de apenas 53 anos que já havia participado de 2 Cape Epic`s e tem uma longa lista de provas de aventura e resistência. Alfredo estava a bastante tempo planejando àquele que além de ser sua terceira participação nesta competição, seria a participação que lhe daria o título de AMABUBESE (AMABUBESE significa grupo dos Leões e é o título dado a todo atleta que termina 3 Cape Epic`s). Ele ainda se tornaria por convite da organização Embaixador desta competição no Brasil.
Tudo aconteceu em poucas semanas, e eu que só esperava participar do Cape Epic depois de deixar de ser um atleta da categoria elite do Mountain Bike Olímpico – coisa que só ocorrerá daqui uns 8 anos – estava já arrumando minhas malas para viajar. E porque não? Afinal, minha participação poderia dar vida nova a minha carreira de atleta. Conhecer novas pessoas, novos horizontes, novas oportunidades e enfim, conseguir sair do Brasil pela primeira vez.
Mas as dificuldades foram muitas, Alfredo passou por duas cirurgias 10 dias antes da viajem, eu levei uma boa queda que me deixou com dificuldades de andar faltando três semanas para partir, tempo que troquei os treinos diários pela fisioterapia. Meu orçamento sempre foi muito curto e agora não seria diferente. O apoio de patrocinadores que sempre estiveram comigo ajudou a diminuir esta dificuldade, foi o caso de Luiz Alberto Arquitetura, a Prefeitura de meu município com sua “ajuda” sempre muito humilde, e enfim o apoio de meu amigo, o comerciante maranguapense Arlindo Mota que veio completar o meu orçamento restante.
Minha antiga bicicleta não suportaria os oito dias de competição na África e só consegui uma bicicleta nova no dia que antecedeu nosso vôo. Resultado: só fui testar a nova bike no primeiro dia de competição, o que não é a melhor atitude, porém foi um risco que tive de correr. A viagem estava marcada para as 7h do dia 16 de março e minhas passagens – cedidas pelo Governo do Estado do Ceará – só foram emitidas às 22h do dia 15 de março, imaginem a minha aflição.
Após a partida de Fortaleza nossa primeira parada foi Guarulhos, e para surpresa, nossa primeira aflição. No chek in para a África Alfredo descobre que seu passaporte estava vencido, e numa estratégia de ousadia e competência, daquelas que coloca empresários do topo, conseguiu persuadir a atendente da Polícia Federal a lhe atender de imediato. Foram necessários apenas 1 hora e 30 minutos para retirar um novo passaporte, o que lhe gerou risos e elogios no Ceará.
Então, após 25 horas de viagem e uma diferença de 5 horas de fuso horário chegamos bastante cansados em Cape Town. De chegada o primeiro impacto é ver todos a andar nas ruas na contra mão e de ver que a direção dos carros é do lado do passageiro. Deslumbrante é a palavra que resume o significado de uma cidade que é cede da próxima copa do mundo de futebol. A visita à Robin Island e conhecer parte da história do maior líder Sul Africano – Nelson Mandela – fecha nossa visita com chave de ouro. O que não estava na nossa programação era voltar para o “Presidente Hotel” e ver que meu computador havia sido roubado. Era uma situação totalmente inesperada de um país sede da Copa do Mundo e que acreditávamos querer surpreender seus visitantes com competência e hospitalidade.
Então veio o primeiro dia de competição e sem dúvida mensuramos de maneira errada o poder deste dia, pois até o final da competição ele teria sido o dia mais difícil do ponto de vista físico. Daí com todo o aprendizado deste dia, realizamos os próximos 2 dias com muita competência e foi no quarto dia que tivemos as maiores dificuldades durante a prova. Paradas para consertar a bicicleta foram muitas por muitos motivos, e o desânimo veio nos cansando emocionalmente, para recuperarmos o ânimo apenas no final deste dia.
O quinto dia foi um contra relógio, o que seria mais parecido com minhas provas de cross country, e com isso pedi à meu parceiro licença para seu o capitão neste dia. Com muita humildade meu parceiro se rendeu à utilizar minha força que o ajudou puxando, empurrando e fazendo tudo que estava à meu alcance para recuperar algumas posições perdidas no dia anterior. No final do dia meu amigo tinha subido bem, descido bem, andado bem e tínhamos a certeza de ter feito o melhor que fomos capazes, e a competição já nos tinha dado outra lição: “Para correr bem o Cape Epic o orgulho tem que ficar em casa.”
No sexto dia voltam às dificuldades, Alfredo correu toda a prova deste dia com tendinites nas suas duas pernas, e numa situação comovente, mas bastante engraçada, enquanto eu colocava na boca comida ele punha pílulas de paracetamol para aliviar suas dores. O mais engraçado era ver que ele mastigava as pílulas acreditando que a digestão seria mais rápida.
Daí até o fim da prova foram muitas dores para meu amigo que terminou seu oitavo dia como um herói, mostrando o quando podemos ser fortes frente à problemas físicos e emocionais, e que nada poderia nos impedir de trazer para o Ceará seu primeiro atleta AMABUBESE.
A prova mais parece o sonho de consumo de todo bom atleta de mountain bike. Acordar cedo todos os dias, passar o dia inteiro pedalando e encerrar os dias sempre com uma festa de premiação e confraternização com atletas e organização. Porém, viver esta realidade é bem diferente do que simplesmente sonhar com ela. E por falar em realidade, foram realidades diferentes da minha que conheci que me fizeram reforçar as crenças em meus sonhos. Venho de um mundo em que apesar de ser o atual campeão cearense de mountain bike e ter outros mais títulos não preencho os pré-requisitos para ser agraciado com uma bolsa atleta de R$200,00, o que não pagam os pneus de minha bicicleta. Dentre os pré-requisitos eu teria que ter uma renda familiar inferior à R$400,00, o que não paga a alimentação de pelo menos um membro da minha família e o que seria impensável para o alto rendimento esportivo. Isso também justifica tanta reclamação e insatisfação do Presidente Lula com os últimos resultados Olímpicos, mesmo tendo gasto milhões com o esporte. Apenas não disseram ao presidente que o dinheiro seria gasto apenas com inclusão social e fome zero, o que deveria ser uma responsabilidade das Secretarias de Inclusão social.
É claro que o esporte tem o poder de trabalhar a inclusão social, e é o que estamos fazendo no Ceará através do projeto “pedalando por um Brasil Melhor”. Contudo, o esporte abrange outras áreas – dentre elas o alto rendimento – e deveria ser trabalhado competentemente em toda a sua magnitude.
Hoje não sou o resultado de um sistema competente de trabalho com o esporte, sou o resultado de meus próprios sonhos, sonhos que visam dias melhores para a nossa e as próximas gerações, sonhos que me fizeram ser Profissional de Educação Física, Especialista em treinamento Desportivo, Presidente de uma Associação Esportiva, Diretor da Federação Cearense de Ciclismo, captador dos recursos financeiros que patrocinam o campeonato cearense de mountain bike, organizador do MARANBIKER – competição que visa alavancar o esporte, Diretor do Jornal “O Esporte” que circula no Ceará e está resgatando a imagem do Esporte Amador, dando a ele visibilidade diante da invisibilidade que lhe é oferecida, sou também pai com muito orgulho e marido de uma inesquecível mulher a mais de 13 anos, e por fim o que eu apenas queria ser: “CIDADÃO E ATLETA.”

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